Músicas escritas por uma lista de compositores, hits estrategicamente planejados para viralizar nas redes sociais e inspirar dancinhas contagiantes. Cantores que, muitas vezes, não estão por trás da letra de seus próprios sucessos. Este é o panorama contemporâneo da criação musical por trás de sucessos de muitos grandes artistas, um cenário que tem gerado inúmeros debates, especialmente nas esferas das premiações mais prestigiadas, como o Grammy.
Nomes famosos como Rihanna, Anitta, Gusttavo Lima, Pablo Vittar, Rosalía e Beyoncé, entre outros, emprestam suas vozes a canções que frequentemente incluem uma lista de até vinte coautores. O álbum “El mal querer” de Rosalía, por exemplo, apresentava em média três ou quatro parceiros por faixa. Já o recente “Motomami” salta para até 11 autores em cada canção. Entretanto, essa dinâmica está gerando algumas consequências. Na era digital, onde os discos físicos e seus encartes detalhados cederam espaço ao streaming, a atenção aos créditos compartilhados tem diminuído entre o público.
Beyoncé, é uma das recordistas no quesito coletivos de autores. Em “Renaissance” (2022), seu álbum mais recente, ela reuniu incríveis vinte parceiros na faixa “Alien superstar”, um padrão que se repete em boa parte do repertório. Vale mencionar que a cantora faz referência a artistas até falecidos, como James Brown e Ralph MacDonald, cujas composições foram sampleadas em trechos de suas músicas.
De acordo com o empresário musical Jeff Nuno, em premiações como o consagrado Grammy, surge um dilema: reconhecer individualmente os talentos em meio a um grande coletivo, “Premiar um ou dois nomes entre dezenas de compositores é um desafio, levantando a questão crucial de quem, de fato, contribuiu significativamente para a criação da obra. Como podemos dizer quem contribuiu mais e quem contribuiu menos? Qual foi a porcentagem de participação de um autor ou até mesmo a porcentagem da parceria em um hit? Para quem vai o prêmio?”, indaga Jeff.
O Grammy estuda em casos de músicas com vários compositores, entregar o troféu para apenas um ou dois dos vencedores, enquanto os outros receberão apenas diplomas que parabenizam a vitória.. O especialista observa esse fenômeno emergente com atenção: “A música é uma forma viva e mutante de arte, evoluindo com o tempo e as tendências. Os coletivos de compositores são um reflexo dessa evolução, uma maneira de trazer várias vozes criativas para uma única canção. No entanto, surge um desafio notável na hora de identificar e recompensar o esforço individual em meio a essa colaboração em grande escala”, acrescenta o empresário.
“Sempre incentivei a divisão colaborativa de royalties, a Lujo network foi pioneira nisso, tenho artistas que permitem remixes se eles participarem desse sistema de reconhecimento monetário. E acho que isso irá evoluir para autores, lembro de diversos autores como Caio Viana, Gabriel Valim e Tierry que escreveram diversas músicas para cantores e muitas vezes não receberam tanta repercussão. Eu sugiro para autores muitas vezes que em vez de vender a música, é legal em algumas ocasiões fazer uma música colaborativa, em conjunto, cantando junto”, finaliza Nuno.